Os meus crimes exemplares por Zoo-Music Girl
(a partir de Crimes Exemplares, de Max Aub)
Dei-lhe um toque, coisa de nada. Que culpa tenho eu de o comboio estar a passar nessa exacta altura?
Ela tentava vezes sem conta suicidar-se. Sempre com comprimidos, coisa fraca.
Aborreci-me e cravei-lhe um punhal no peito. Ela esbugalhou muito os olhos e balbuciou qualquer coisa.
Penso que foi "Obrigada".
Confesso que sou muito amiga dos meus amigos.
Ela nunca se ria das minhas piadas. Detesto pessoas sem sentido de humor.
Felizmente resolvi o problema com a fantástica tesoura de trinchar...
A mediocridade sempre me enojou. Foi por isso que, ao vê-lo na sua cadeira de rodas, sem pernas, feio como o susto e ainda por cima sorrindo, lhe empurrei a cadeira pela encosta abaixo.
Fiquei com a consciência bem mais tranquila.
Tudo começou por causa de um hamburguer que se queimou na frigideira. "Não faço nada de jeito", disse ela. Não a querendo contrariar, intensifiquei o seu lamento derramando o óleo a ferver pelo seu rosto.
Arriscamo-nos a ter que ouvir os outros. Ia a passar na rua, vi um cão a cagar. Ao lado uma velhinha bexigosa que sorria para mim e me disse: "Pobre bicha, estava tão aflita!".
Não havia mais nada a fazer que enforcá-la com a trela da sua cadelinha.
Mas claro que isso foi depois de ter dado uns valentes pontapés na pobre bicha com as minhas botas de biqueira de aço.
Matei-a porque pensava que era especial.
Matei-o porque era especial.
Matei-os porque sou especial.
(postado Junho 14, 2004)
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