Spread Your Love Like a Fever aka eu e o Beck
(a história que todos anseiam ler)
Foi com Odelay (96) que a curiosidade nasceu em mim. Ainda não tinha ouvido o Mellow Gold (94) do qual apenas conhecia Loser, a tal música que a geração slacker utilizou para seu hino e da qual Beck sempre recusou fazer parte.
A história Beck, imprensa, losers/slackers generation ainda andava no ar e intrigava-me. Daí que, para além de ouvir os álbuns, comecei a investigar.
Quem era aquele ser com chapéu de cowboy que dizia ter um Devil's Haircut na sua mind? E que música era aquela?? A música que ele fazia? Nunca tinha ouvido nada assim...
Não chegou a terminar o liceu, pois a escola que frequentava (e o próprio bairro onde vivia) situava-se numa zona extremamente perigosa e era frequentemente perseguido por gangs que o assaltavam e ameaçavam.
Era um dos poucos putos brancos num bairro de emigrantes latinos na zona oriental de Los Angeles, bem longe das celebridades e do glamour de plástico. Qué Onda Guero do último Guero é uma "homenagem" às recordações da sua adolescência numa versão soft (muito mais levezinha que a Truckdrivin Neighbors Downstairs (Yellow sweat) de Mellow Gold que tem uma parte da gravação da discussão entre dois vizinhos que terminou com um deles com um braço a menos. A culpa foi do machado o_O)
Em vez de se tornar um delinquente, preferiu refugiar-se na biblioteca lá do sítio. Para além de ler muito, trazia uns vinis da secção de música para ouvir.
Começava a sua paixão.
A mãe Bibbe, uma das actrizes de Andy Warhol, separada de David, pai de Bek e Channing, educou os rebentos de uma forma muito livre: imaginem a vossa casa constantemente inundada de punks e a vossa mãe a tocar guitarra numa banda hardcore.
Resultado: não podiam ficar a ver televisão e a comer cereais ou a fumar ganzas slackers style pois cedo perceberam que tinham de se virar sozinhos e ganhar uns dólares para ter alguma comida no estômago.
Wilde dizia que só tinha a declarar o seu génio. Beck diz que só tem a declarar os seus genes. O sangue do avô Al corre-lhe nas veias. Atravessou o país de autocarro e à boleia acompanhado de uma namorada para conhecer a cidade que tanto influenciou o artista da Fluxus, Nova York.
Pouco depois de lá chegarem, Beck perde a namoradinha no metro. Nada a fazer. Fica sozinho mais a sua guitarra.
Além de ter varrido muita rua, lavado muitos pratos, ter alfabetizado a secção de pornografia em vídeoclubes, ter tirado muita fotografia tipo passe ao pessoal que ia fazer o BI, Beck começou a mostrar a sua música em clubes muito pequenos onde maioritariamente já estava tudo bêbedo e pouco ligavam às suas performances. Nem por isso desistiu. A sua paixão, a música, fê-lo persistir, felizmente.
Em 98, quando a tour de Odelay já no seu final (2 anos!!) trouxe Beck pela 1ª vez ao Coliseu de Lisboa, comprei 3 bilhetes e arrastei comigo a minha sister e o meu ex.
Eles não faziam grande questão de o ver mas eu não poderia permitir que não me acompanhassem nessa noite mágica e que perdessem a oportunidade de assistir a um dos concertos das suas vidas.
Disse-lhes: "só me pagam o bilhete se acharem que o concerto merece o $".
No final, bem que me agradeceram a teimosia e saíram de lá quase tão fãs como eu.
A partir daí é o que se sabe, um acumular de álbuns brilhantes, de actuações excepcionais, momentos memoráveis que me arrancam muitos sorrisos.
Num comentário a um post anterior, o Astronauta dizia o seguinte:
É o MAIOR! Ponto final. Merece isso e muito mais! Qual o mal em vender muitos discos? O que é isso de música comercial, nos dias de hoje? O que é bom deve ser partilhado com o maior número de pessoas! Importante é que ele continue a fazer a música que ele quer, não que os outros querem que faça! Cheers!É isso mesmo, caríssimo. Venha o reconhecimento mundial, finalmente.
É tempo da febre se espalhar :)
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