terça-feira, maio 17

- Que posso eu fazer mais? perguntou Xavière tristemente; olhou para os próprios dedos com uma expressão meditativa; eram dedos vermelhos de camponesa que contrastavam com os pulsos finos. - Talvez eu pudesse tentar ser puta, mas ainda não sou suficientemente aguerrida.
- É uma profissão dura, bem sabe, disse Françoise, rindo.
- O que é preciso é não ter medo das pessoas, disse Xavière com um tom reflectido; abanou a cabeça. Estou a fazer progressos: quando um tipo se roça por mim na rua, já não grito.
- E entra sozinha nos cafés, é já muito bonito, disse Françoise.
Xavière olhou-a confusa: - Sim, mas não lhe disse tudo: naquele pequeno dancing onde estive ontem à noite, houve um marinheiro que me convidou para dançar, e eu recusei. Acabei à pressa o meu calvados e fugi como uma cobarde. Fez uma careta. É atroz o calvados.
A Convidada, Simone de Beauvoir

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