sexta-feira, abril 15

Lembras-te?

3 passos para trás, um para a frente. Olho para trás e sei que moras logo aqui à frente... podia tocar à tua porta, bater no dedal de ferro que vejo preso na tua porta. Fazia truz truz e esperava que me mirasses pelo círculo ocular que separa o teu lado da porta sobre o meu. Está um caixote de lixo aqui bem perto e anda outro lá ao longe. Daqui para lá bastam 234 passos, digo eu para mim... e até o comprovo: um, dois, três... e pronto, apenas foram 98. Agora a tua porta parece-me diferente. 98??? Podia jurar que o raio do caixote estaria muito mais longe. Agora estás mais distante, a 98 passos de mim, fora os 7 ou 8 que darias até chegares muito perto desse prateado utensílio que faz click, e abre-se qual sésamo, o génio. Mas o que vai na minha cabeça, agora a 98 passos, é que bastaria um segundo e menos 98 passos para estar a 2 passos... rezam as lendas que as histórias fabricam-se de plasmas coloridos e imagéticas sensações, mas a nu, eu sei, que doravante é um caixote, e logo a seguir um lampião... restam-me as janelas. E pensar que se olhasses o mundo, ao perto estaria um vulto espantado à espreita em passos meigos sem destino. Olho para a frente, o teu dedal estático, a porta cerrada, e por cima, uma persiana que se abre...



Corro pela sala em direcção à persiana corrida. Detenho-me por momentos... "Que esteja sol, que esteja sol... hoje quero sol..." O tiquetaquear do relógio alerta-me... "O sol ainda não nasceu... A esta hora ainda não ilumina este lado do mundo, esta janela fechada". O que faço aqui em pé a esta hora então? Terei sonhado que já era dia, que já era altura de espreitar a rua e a vida ao longe?
Mas já escuto os pássaros no seu canto matinal... "O sol enganou-se, veio mais cedo". E sorrio consciente do disparate, dedos puxando o cordão dos estores.
Afasto o cortinado e, face colada ao vidro frio da janela, vejo as gotas que se libertam na madrugada que me saúda. Observo as luzes reflectidas na calçada molhada, os carros estacionados, os vasos da vizinha caídos por força do vento.
Vejo a carrinha que pára frente à padaria, caixotes de verga carregados de pão fresco, os cães presos por trelas e os seus donos ensonados, gotas que correm o vidro embaciado. Tenho o nariz gelado e, no entanto, aqui permaneço, olhar curioso. Reparo agora num jovem do lado esquerdo. Parece olhar na direcção da minha janela. Não. Olha para a janela da minha vizinha, a que tem os vasos caídos no chão. Está parado. Hesitante. Talvez perdido. No entanto, parece que o vejo sorrir.

(to be continued ?)

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