sexta-feira, outubro 8

Uma narrativa sem rumo (conclusão)

N me ocorreu nada, naquele instante. Sabia dizer-te uma coisa: tirei-te de casa! Apenas isso me ocorria. Qual a razão? N havia razões suficientes q justificassem a satisfação concreta de uma boa resposta, mas eu sabia q era o q eu queria fazer na altura, mesmo n sabendo como haverias de reagir. Qd rumei ao teu destino nunca tinha ponderado q pudesses perguntar, e agora q a pergunta teve voz na tua voz, dou por mim a pensar tb: q te direi? Enquanto espreitavas pelo teu lado escondido, à tua direita e voltada de costas para mim... murmurei para dentro: fui-te buscar pq n te conheço de outra forma. Queria dar uma pausa ao silêncio e fazer do diálogo mil maravilhas de encanto só pelo prazer de te ver a sorrir, só pelo prazer de contrariar a tua pergunta. Desatei a ler fragmentos na minha cabeça e falei para mim: ao longe, no nada, vê-se daqui outras formas de ver que ao perto não sabemos o que fazer... mas sei tb q cá dentro de nós, tudo é sugerido ao comando de um segundo antecedido ao momento exacto em q bocejamos qq acto, palavra, ou uivo. Havia poucas luzes na Vila sorteada pela estrada q nos guiava. Passámos por pessoas q nos acenavam sorridentes, outras, q nos espantavam pelo olhar desconfiado pelo desconhecido. A calçada carregava anos a fio, os lampiões pareciam marmotas por onde os anos passam mas sem o vislumbre de um sinal de mudança. E pq falar do tempo é dizer q n há nada para dizer... ajustei o teu ombro para te sacudir num abraço meigo e perto, mt perto de ti, disse: se quiseres, podemos seguir para trás... embora preferisse sugerir q nos deitássemos no chão à espera q a noite nos traga memórias do passado, do antepassado, memórias q pernoitem às claras... e q para o mal de todos os pecados, a sinceridade pudesse perguntar a um e ao outro: Como chegaram até aqui? Levitar o teu sorriso, era só o q eu pretendia...

E, de facto, o meu sorriso surge, sincero, bem-disposto, enquanto te digo finalmente:
Tu existes mesmo? Achas que quero voltar para trás?
Devolvo-te o abraço e penso para mim: Que a vida seja sempre uma estrada para percorrer livre... E que nunca falte a gasolina! Acrescento em voz alta. Sei que sorris.
Não preciso de saber porque me foste buscar, apenas interessa que aqui estou. E neste momento, olho as estrelas que começam a surgir no céu limpo e dou por mim a contá-las: uma, duas, ... e sei que me olhas divertido pensando: que menina mais tonta! Mas suspeito que também tu as contas e rimo-nos na nossa cumplicidade.
Prosseguiremos a nossa viagem pelas estradas que aguardam a nossa passagem para nos saudar e logo que entremos no carro, escolherei a nossa banda-sonora. E nas notas da música que nos embalará, encontraremos decerto o melhor caminho a percorrer quebrando o silêncio da noite com os refrões que cantaremos bem alto.



Ah, como me soube bem gritar as palavras do Adolfo "como se faz noite dentro de mim... ". No fundo, senti que a noite, na realidade, nunca se despede por fim. Mas sim adormece para deixar o sol mandar. Ao longo de uma estrada perdida, lembrei-te o filme por onde o Bowie sussurrava rasteiro nas linhas amarelas q queimavam a toda a velocidade. Destino a nenhum... sorriam-me as vozes dos anjos q cintilavam, por certo, de sentinela a guardar-nos. Tu disseste que não sentias medo e até recalcaste a ideia dizendo: Sei muito bem como me defender. Sorri-te leve, e disse: eu sei.
Umas vezes cantavas exclusivo para nós, lembras-te? Envergonhado, eu dizia que não sabia a letra, mas tu... oh, só tu mesmo, tu rias às gargalhadas e cantavas com aquela vontade de quem canta para si, porque se sabe só e sem o compromisso de existir alguém que nos espreita. A minha presença não mexia com a emoção do tom em que colocavas a tua voz cantada, e eu, espantado, sorria e mexericava os lábios a ver se te enganava... não adiantava muito, eu não conhecia a letra. Dos teus lábios saíram o prazer da noite e os sorrisos comovidos... a noite até então n adormecera. O carro não parava, ele próprio parecia dançar. Cheguei-te a perguntar: não te parece que o carro quer dançar? Quem seria o melhor parceiro para ele?

Acho que o vi agitar-se bastante com os Blues Explosion! Ou então era eu quem fazia o carro estremecer. E acrescento entre gargalhadas: Play the blues, punk!!! Abanas a cabeça fingindo confusão. Olhas-me e adivinho o riso eminente. Sim, eu sei... Mas não há vizinhos por aqui senão nesta altura estariam bem longe... Por isso... Carrega no acelerador!!! ;)
E vamos pela estrada fora.
Na escuridão revelada pelos faróis que vemos avançar entre traços contínuos. Por localidades de nomes desconhecidos. No meio de paisagens envoltas no silêncio, janelas descidas, cantando a plenos pulmões. Ar que respiramos. Conforto reencontrado.
Sorrimos.
E sem rumo continuamos a viagem. Até a estrada terminar.

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