Uma narrativa sem rumo (conclusão)
N me ocorreu nada, naquele instante. Sabia dizer-te uma coisa: tirei-te de casa! Apenas isso me ocorria. Qual a razão? N havia razões suficientes q justificassem a satisfação concreta de uma boa resposta, mas eu sabia q era o q eu queria fazer na altura, mesmo n sabendo como haverias de reagir. Qd rumei ao teu destino nunca tinha ponderado q pudesses perguntar, e agora q a pergunta teve voz na tua voz, dou por mim a pensar tb: q te direi? Enquanto espreitavas pelo teu lado escondido, à tua direita e voltada de costas para mim... murmurei para dentro: fui-te buscar pq n te conheço de outra forma. Queria dar uma pausa ao silêncio e fazer do diálogo mil maravilhas de encanto só pelo prazer de te ver a sorrir, só pelo prazer de contrariar a tua pergunta. Desatei a ler fragmentos na minha cabeça e falei para mim: ao longe, no nada, vê-se daqui outras formas de ver que ao perto não sabemos o que fazer... mas sei tb q cá dentro de nós, tudo é sugerido ao comando de um segundo antecedido ao momento exacto em q bocejamos qq acto, palavra, ou uivo. Havia poucas luzes na Vila sorteada pela estrada q nos guiava. Passámos por pessoas q nos acenavam sorridentes, outras, q nos espantavam pelo olhar desconfiado pelo desconhecido. A calçada carregava anos a fio, os lampiões pareciam marmotas por onde os anos passam mas sem o vislumbre de um sinal de mudança. E pq falar do tempo é dizer q n há nada para dizer... ajustei o teu ombro para te sacudir num abraço meigo e perto, mt perto de ti, disse: se quiseres, podemos seguir para trás... embora preferisse sugerir q nos deitássemos no chão à espera q a noite nos traga memórias do passado, do antepassado, memórias q pernoitem às claras... e q para o mal de todos os pecados, a sinceridade pudesse perguntar a um e ao outro: Como chegaram até aqui? Levitar o teu sorriso, era só o q eu pretendia...
E, de facto, o meu sorriso surge, sincero, bem-disposto, enquanto te digo finalmente:
Tu existes mesmo? Achas que quero voltar para trás?
Devolvo-te o abraço e penso para mim: Que a vida seja sempre uma estrada para percorrer livre... E que nunca falte a gasolina! Acrescento em voz alta. Sei que sorris.
Não preciso de saber porque me foste buscar, apenas interessa que aqui estou. E neste momento, olho as estrelas que começam a surgir no céu limpo e dou por mim a contá-las: uma, duas, ... e sei que me olhas divertido pensando: que menina mais tonta! Mas suspeito que também tu as contas e rimo-nos na nossa cumplicidade.
Prosseguiremos a nossa viagem pelas estradas que aguardam a nossa passagem para nos saudar e logo que entremos no carro, escolherei a nossa banda-sonora. E nas notas da música que nos embalará, encontraremos decerto o melhor caminho a percorrer quebrando o silêncio da noite com os refrões que cantaremos bem alto.
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Ah, como me soube bem gritar as palavras do Adolfo "como se faz noite dentro de mim... ". No fundo, senti que a noite, na realidade, nunca se despede por fim. Mas sim adormece para deixar o sol mandar. Ao longo de uma estrada perdida, lembrei-te o filme por onde o Bowie sussurrava rasteiro nas linhas amarelas q queimavam a toda a velocidade. Destino a nenhum... sorriam-me as vozes dos anjos q cintilavam, por certo, de sentinela a guardar-nos. Tu disseste que não sentias medo e até recalcaste a ideia dizendo: Sei muito bem como me defender. Sorri-te leve, e disse: eu sei.
Umas vezes cantavas exclusivo para nós, lembras-te? Envergonhado, eu dizia que não sabia a letra, mas tu... oh, só tu mesmo, tu rias às gargalhadas e cantavas com aquela vontade de quem canta para si, porque se sabe só e sem o compromisso de existir alguém que nos espreita. A minha presença não mexia com a emoção do tom em que colocavas a tua voz cantada, e eu, espantado, sorria e mexericava os lábios a ver se te enganava... não adiantava muito, eu não conhecia a letra. Dos teus lábios saíram o prazer da noite e os sorrisos comovidos... a noite até então n adormecera. O carro não parava, ele próprio parecia dançar. Cheguei-te a perguntar: não te parece que o carro quer dançar? Quem seria o melhor parceiro para ele?
Acho que o vi agitar-se bastante com os Blues Explosion! Ou então era eu quem fazia o carro estremecer. E acrescento entre gargalhadas: Play the blues, punk!!! Abanas a cabeça fingindo confusão. Olhas-me e adivinho o riso eminente. Sim, eu sei... Mas não há vizinhos por aqui senão nesta altura estariam bem longe... Por isso... Carrega no acelerador!!! ;)
E vamos pela estrada fora.
Na escuridão revelada pelos faróis que vemos avançar entre traços contínuos. Por localidades de nomes desconhecidos. No meio de paisagens envoltas no silêncio, janelas descidas, cantando a plenos pulmões. Ar que respiramos. Conforto reencontrado.
Sorrimos.
E sem rumo continuamos a viagem. Até a estrada terminar.
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