domingo, dezembro 19

O meu outro post de Natal

É um texto diferente
deste. Não recorda os natais de antigamente...
Chamemos-lhe uma ficção assente numa alucinação súbita...

Um centro comercial da nossa capital:

Entre a multidão apressada, carregada de sacos, embrulhos coloridos e luzes intermitentes, surge um ser estranho... Ao primeiro olhar poder-se-ia pensar ser mais um tipo vestido de Pai Natal, mas não... este homem não traz um saco cheio de presentes, nem parece ser dos que fazem cãezinhos com balões... o seu olhar frio e a caçadeira a tiracolo afastam essa hipótese...
Aos poucos o barulho das pessoas que enchiam os corredores e as lojas vai-se dissipando, sendo substituído por murmúrios ansiosos e assustados.
O Pai Natal pára por momentos a sua marcha. Parece soltar um suspiro...
Cansaço? Um súbito rebate de consciência? Sarcasmo?
Leva a mão à caçadeira num movimento rápido e decidido...

Analisemos as suas eventuais motivações:

- Não consegue olhar as outras pessoas como seus semelhantes pois nenhuma delas tem de vestir aquelas vestimentas ano após ano... por uns míseros tostões;

- está farto de miúdos ranhosos a berrarem-lhe aos ouvidos os mais absurdos caprichos e dos seus progenitores babados, olhos lacrimejantes, sorrindo para os pequenos abortos;

- O espírito natalício é uma afronta à inteligência de qualquer homem civilizado, uma ditadura instituída para escravizar o homem livre;

- A hipocrisia enfeitada com laços brilhantes dá-lhe náuseas;

- Não consegue digerir nem mais um jantar de Natal em família;

- Peúgas, peúgas, peúgas, malditas peúgas todos os anos!!

Aponta a um alvo... Um tiro...
Gritos...
A multidão corre, desperta de repente...
E o nosso Pai Natal continua... na sua missão por um mundo melhor...