sábado, janeiro 8

"Mas entretanto a angústia aumentava, não havia dúvidas; já lhe conhecia a formação: primeiro uma vaga incerteza, uma sensação de desconfiança, de vacuidade, uma necessidade de se movimentar, de se apaixonar; depois, pouco a pouco, a garganta seca, a boca amarga, os olhos esbugalhados, o regresso insistente à sua cabeça vazia de certas frases absurdas, um desespero, em suma, furioso e sem ilusões. Michele tinha um receio doloroso desta angústia; desejaria não pensar nela e, como todas as outras pessoas, viver minuto a minuto, sem preocupações, em paz consigo próprio e com os outros. "Ser um imbecil", suspirava algumas vezes (...)
Era assim fosse onde fosse, desocupado, indiferente; aquela rua encharcada de chuva era a sua própria vida, percorrida sem fé e sem entusiasmo, com os olhos fascinados pelos esplendores falazes das publicidades luminosas. "Até quando?" (...)
"Para onde vou?" Em tempos, ao que parecia, os homens conheciam o seu caminho desde os primeiros até aos últimos passos; agora não; tinham a cabeça dentro de um saco, na escuridão e na cegueira; era, contudo, preciso ir para qualquer parte (...)"

Os Indiferentes, Alberto Moravia

A ouvir: Cold Brains (sample), Beck

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