sábado, maio 20

Apenas um protótipo (Tu e eu e o hoje) aka começaste tu, continuei eu

Estivesse o sol mais aberto e eu não poderia dizer que este se anda a esconder em mim. Quando a primavera quer relatar as primeiras flores de um ano que termina sempre em frio, deveria, ela mesmo, dizer ao sol para acabar com estas brincadeiras às cegas pelos vales das escondidas. Mas não, acontece que não será hoje que erguemos um copo rumo à felicidade, e não será por este meio que me invocarei a implorar-te por aquele sorriso sem disfarce que só tu conheces fazer. Hoje é um não dia, porque amanhã tu e eu vamos acabar por esquecê-lo. Tu e eu e o hoje, como se não houvesse amanhã... para amanhã tudo não parecer como hoje sentimos e assim nos desculparmos com a palavra velhice.
Estivesse o sol, insistia eu agora... mas tu recusaste-te a ouvir qualquer coisa que pudesses novamente não gostar de ouvir, e sorriste. Assim, sem me prevenires, sorriste simplesmente e fizeste-me esquecer que amanhã é sempre um novo dia. Podíamos então tentar, ocorreu-me pensar, tentar dizer ao sol que ele bem podia ficar apenas e só no seu lugar, nem que seja só hoje, e por hoje apenas ser ele, lá longe e só no seu lugar. E relembrei-te: Hoje é ainda primavera, comemoramos?

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Apenas um protótipo, disseste tu. Depois a imensa generosidade de letrinhas espalhadas até mim. Correm por atalhos, formam escadas, atravessam rios. Aproximam-se para me abraçar e falar do sol. Simples e gentis. Sem máscaras ou intenções escondidas. Com o único objectivo de me ver sorrir. Sorrio-lhes. Olho-as e quase que as consigo agarrar. Apertar-lhe os dedos que não têm.
O sol de que me falas parece ser o mesmo que vi há pouco. Agora já deu lugar à lua. Não a espreitei mas é daquelas poucas coisas que temos como certas. A lua no céu a iluminar a noite quente. Também não sei se está quente lá fora, mas deve estar. Apesar de ter o casaco vestido. Mas não estou lá fora e lá fora deve estar quente. Primavera, ainda é Primavera. Se o dizes, acredito. Não tenho estado muito atenta às estações. Bem, não tenho estado muito atenta a nada. Mas quase que aposto que a lua está lá em cima no céu e até há estrelas a cintilar aqui e acolá. Era assim há uns tempos e assim deve continuar.

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Era assim há uns tempos, e eu acredito em ti. Sob as estrelas, aquelas ali e muitas outras que coexistem acolá, revejo miragens que voaram de estação para estação. E se fechares os olhos vais ver que é tão fácil sentir os pontos negros, a humidade, as bactérias, o espaço, um imenso espaço. São miragens todas elas cheias de silêncio, e o silêncio não se mexe. A Primavera de hoje faz-me esquecer de tanto, e hoje sei que direi que tu existes. Tu e o teu corpo, uma voz, e a complexidade da tua alma. E o teu nome, que hoje guardo, e as tuas palavras despidas, depois de lidas, aqui tão bem dentro de mim. Por todo o lado, tu, sempre tão perto da longevidade dos nossos caminhos que se distanciam em paralelos. Um no norte e o outro no sul, na Primavera de hoje, juntos pelo sol até que a noite nos vem deitar à luz do luar. Deixar o sol dormir e a noite despertar, deixar pelo cosmos pedaços de tudo, tudo para não deixar nada para amanhã. E por favor, deixa-me perguntar-te as horas para eu dizer que não acredito no teu relógio, não passa de um objecto exterior à pele do teu pulso, e a verdade de ti apenas quero sentir. E sei que sinto, dentro de um pulso onde se gera vida... vida essa que me acompanha quando me respondes só por te ter chamado, só por te ter lembrado. Elimina-se a confusão, se por hoje não nos distrairmos só porque nos temos a um e ao outro. E sim, será assim tão simples e até te deixo segredar tudo isto ao sol, mesmo que nada disto seja novidade. Sabermo-nos perto faz um dia. Tu e eu e o hoje, todos eles num quadro numa ode à Primavera. E se amanhã não nos lembrarmos, não faz mal. Será como aqueles quadros abstractos que só os loucos interpretam.

[a 1/3 com o companheiro de letrinhas, ileee :) ]

4 Comentários:

Às 11:25 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Como te disse ontem, simplesmente delicioso.
E olha que não estava a brincar em relação ao livro! u_u
Quere mais *ar guloso*

 
Às 2:18 da tarde , Blogger static disse...

tenho pouco mérito neste :p
o Ileee é que é grande :)

 
Às 6:16 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

só agora li o último terço.
tive um sorriso a baloiçar durante todo o tempo em que me deliciei e saciei.
obrigada por partilhares, querida groselha ^^

beijinho grande

 
Às 11:56 da tarde , Blogger static disse...

:) até tingi a língua de tanta que era.

 

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