segunda-feira, setembro 4

II

Falava-te do nevoeiro onde os meus olhos depositam esperança, e acrescentava-lhe um pouco de vermelho, cor de um coração egoísta porque quer viver. A beleza cresce-te fatal, meu nada que povoas a destruição. Chamaste-me a ti, e eu pensei que o tinhas feito para não acabar como os outros. Mas os meus miseráveis hábitos de perguntar por tudo apenas provocaram a tua única dúvida deste momento que eleva o caos à glória. Já só me queres de arma massiva, de napalm aceso e sem orgulho ferido, e eu, por momentos, esperancei um monte de tretas que corrompem a triste realidade que um passado de vinte séculos provocou neste vasto mundo vazio de disfarces e traições. Olha as pessoas a rezar? Que ódio! Vou cortar a cabeça desta senhora com o teu machado. Dá-me um qualquer papel e um lápis, pretendo deixar este recado: Viveste depressa de mais! Havemos de sair surdos, sabes bem disso, não sabes? Estas detonações são ruído nunca antes experimentado. Agora sei que estás cega, e que o que te cega não é a dor que um qualquer provoca. Estás cega e sem paz. Disseste-me que a paz era uma empresa privatizada. Que ódio! Que tamanha mentira inventada rumo à ilusão! Já só quero matar! Que morram os crentes, que ardam os corpos daqueles que gozaram tudo retirando aos fracos aquilo que lhes era de direito. Vejo a merda da palavra misericórdia a folhear nos lábios daqueles que invocam perdão, vejo a estupidez instaurada de quem mente na hora da morte, dizendo que não percebem o que lhes está a acontecer. Até na morte se acham capazes de enganar para seu proveito, bando de abutres! Os teus braços desaparecidos, os teus lábios de armadura e os teus olhos à prova de bala proclamam: Morte à sobrevivência! E eu grito. A tua voz é ouvida e temida, e continuas: morte à inocência, se ela é a prova de que as pessoas vivem ignorantes. Morte aos túmulos antepassados que destilaram o pânico só por se saber que a morte é uma coisa de quem ninguém se livra. Morte aos generais de condecorações ao peito, senhores das guerras e do poder. Morte ao temor que um nosso próximo nos inflingem por prazer. Morte!
Agosto morreu e a um segundo da sua extinção levou com ele até o nada. Tens o tudo na mão e nem por isso tu aceitas a medalha.

A tua beleza subiu ao céu, Setembro ofereceu-lhe um arco-íris de boas vindas. E nem hoje olhas para trás, e nem hoje vais dizer que deixaste uma recordação recalcada. Não te caiu uma única lágrima, nem sequer tropeçaste nestes biliões de corpos caídos, não fizeste um esforço para perdoar e eu quero-me ao teu lado, amor.

2 Comentários:

Às 12:25 da manhã , Anonymous Anónimo disse...

E de repente, num espaço que nem existe fisicamente, vejo o reflexo de uma dor que pensava só minha.

 
Às 11:44 da tarde , Blogger static disse...

:) obrigada.

 

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